As aparências enganam, a gente sabe disso, mas parece que não aprende nunca!
Todo mundo, inclusive você e eu, em algum momento da vida, já caiu nessa cilada de não botar fé em alguém, só por causa da aparência fora dos padrões. Ô mania!
Mas como é bem feito quando a gente tem que dar o braço a torcer, né?
Sério, eu sempre fico feliz quando isso acontece comigo.
No badalado programa de calouros da Inglaterra, o Britain's Got Talent, recentemente aconteceu das aparências engarem duas vezes.
Primeiro foi em 2007, quando o vendedor de celulares Paul Potts entrou no palco. Estava ali um homem gordinho, mal vestido, tímido, zarolho e com um dente quebrado.
As expressões de desprezo eram visíveis; tanto dos jurados como da plateia.
Eis que aquele feínho abre a boca e tem a petulância de cantar a belíssima ária "Nessum Dorma", da ópera "Turandot", de Puccini.
Tcham-nam!
Uma voz magnífica! Uma apresentação impecável, maravilhosa!
Que choque! Que tapa de luva! Na verdade, que soco na boca do estômago!
A emoção foi generalizada!
No final daquele programa, a jurada Amanda Holden chegou a dizer: "Descobrimos uma jóia; um príncipe!"
É sempre muito bonito e comovente ver um anão derrotando o gigante, mas até chegar nesse ponto, eu fico pensando quanta rejeição a pessoa teve que enfrentar ao longo de sua vida, principalmente na infância e adolescência, quando as críticas e discriminações são mais ferinas, ferrenhas e doem mais!
Bem, o que aconteceu com Paul Potts depois? Ele venceu o concurso, como prêmio gravou um cd entitulado "One chance", deu um trato no visual e chegou a cantar para Sua Majestade, dona rainha Elizabeth II.
"Durante toda a minha vida, me senti um insignificante, mas depois da primeira audição eu realmente sou alguém. Sou Paul Potts."
Esse ano, no mesmo programa de calouros, o mundo conheceu outra sapinha que virou princesa: Susan Boyle, a solteirona gordinha, simplória e desengonçada que, justamente por isso, mais o seu incrível talento musical, arrebatou e conquistou multidões! Ela é a bola da vez.
Quando a vi na tv pela primeira vez, confesso que pensei: "Nossa! A pobre lenhadora foi pro programa direto do borralho!"
(...)
Que maldade! Que vergonha! (15 açoites como auto-flagelação!)
Quando aquela mulher tão pura abriu a boca e cantou lindamente, com tanta singeleza, eu fiquei uns quatro dias tontinha com a justa bordoada que ela me deu!
Agora ela tá aí, fazendo o maior sucesso e, já com um visual repaginado em sua mais recente participação no programa, é uma das candidatas à final, favoritíssima por 10 entre 10 habitantes da Terra!
Já do outro lado do Atlântico, nos EUA e o seu também badalado programa de calouros, o American Idol, o grande queridinho não é feio. Muito antes pelo contrário!
Adam Lambert é lindo! Embora, confesso, que sua beleza me assusta! Talvez porque seja um pouco Frankestein:
ele tem um pouco de Elvis...
...um pouco de Morten Harket, vocalista da extinta banda Ah-há...
...um pouco de Prince...
...um pouco de Boy George,vocalista da falecida banda Culture Club...
...um pouco de Duran Duran...
...um muito de emo (veja bem, eu não estou julgando o moço! Sua aparencia é de emo, sim!) Mas esse cara não é só mais um rostinho bonito, não! É uma explosão de talento! Ele impressiona e arrepia porque canta com verve; é um verdadeiro assombro!
Eu fiquei chocada quando o vi pela primeira vez, num video enviado por minha amiga-correspondente de novidades alternativas e ecléticas, Deborah Souza, que sempre me manda as notícias atualizadas da cena cultural americana, especialmente dessa famosa competição musical.
Cheguei a dizer a ela que, de tão confusa que fiquei ao conhecer Adam Lambert, não sabia o que fazer com ele!
Dentro dos padrões de beleza impostos pelo mundo fashion e pela mídia, sem dúvida ele já é campeão.
Mas de que vale tanta beleza e tanto talento, se ele for arrogante ou fútil?
Eu defendo cegamente que não devemos julgar ninguém pela aparência, porque podemos errar tanto subestimando os feios, como superestimando os bonitos.
Fato.
Mas isso não significa que devemos ser desleixados com a aparência. Nem um extremo, nem outro.
Cuidar da boa aparência é importante por ser uma questão de higiene, de saúde e de amor-próprio; e tudo isso junto, afeta em cheio a nossa auto-estima.
Só que a boa aparência não é nada, se o interior é vazio. Beleza sem conteúdo é altamente entediante!
Fato.