terça-feira, 29 de setembro de 2009

Bellas falas

Ontem, no centro da cidade, passei ao lado de uma banca de jornal e vi que ali vendia-se livros usados. Ávida por uma boa leitura, parei pra ver se naquele mini-sebo tinha alguma coisa que valesse a pena.
Eis que encontro, em perfeito estado de conservação, um livro do Miguel Falabella que só pelo título, já me conquistou: "Pequenas alegrias".
(Confesso que não sabia que ele tinha livro escrito! E descobri em seu site - http://www.miguelfalabella.com.br - que são 3, ao todo).

Ao abrir o livro pra ver o preço, vi que custava inacreditáveis R$ 2,00!
(K entre nós, isso chega a ser um desrespeito, pôxa! Tanta dedicação investida, tanto sentimento empregado, tanto tempo gasto num trabalho... pra receber, no final, o preço de uma água mineral?! Sinceramente, mesmo sendo livro usado, mesmo sendo revenda, fiquei constrangida de abrir a carteira pra pagar um valor tão ínfimo! Ainda mais depois que li aquela pequena preciosidade!)

O livro é uma delícia! Do ano de 1993, ali você tem uma reunião de textos do Miguel, que foram publicados em jornais. São crônicas jornalísticas divididas em dois temas: "Coração insular", onde ele conta várias histórias de sua infância na Ilha do Governador-RJ; e "Coração urbano", com histórias já da fase adulta, na selva de pedra do Rio, capital.

Fiquei muito bem impressionada, querendo recomendar esse livro pra todo mundo, principalmente pra minha mãe, que nunca foi muito com a cara dele! hahahahaha!!!!

Miguel Falabella é sabidamente um artista consagrado, por atuar em várias frentes (canta, dança, representa, pinta, borda, tricota, richuleia...) e ser competente em tudo o que faz; mas no livro é possível conhecer um pouco mais dessa mente brilhante, inquieta e extremamente sensível. Além da diversão (histórias en-gra-ça-dís-si-mas!), ele também me levou à reflexão e me emocionou em vários trechos. Destaco a história da menininha que foi pedir autógrafo pra ele num restaurante e ele, com um super mau humor no dia, pasmem, negou! A amiga que o acompanhava no jantar, deu a maior bronca e ali, no mesmo instante, ele reviu sua postura. Aliás, há outras confissões, de arrependimentos inclusive, como o tempo em que ele tinha vergonha de ser brasileiro e se dizia turista, proveniente de algum país europeu.
Fora as figuras marcantes de sua vida (a mãe, a avó, as tias, a fiel empregada, os ídolos do cinema, os bichos de estimação...), todos com passagens e episódios tão interessantes.


Eu li todo o livro numa sentada só e ao me aproximar do final, já foi me dando aquela dorzinha de saudade e pena de me despedir daquelas letras tão bem escritas.

Realmente eu não me lembro de ter visto R$ 2,00 valeram tanto!



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vale tudo!

Ah, tááááááá!!!!!! Agora entendiiiiii!!!!!!!
As peças do estranho quebra-cabeça se encaixam direitinho e meus olhos vêem!

Então quer dizer que está em vigor a nova estratégia de "marketing pessoal" do século XXI: escândalos, vexames, micos, saia justa, superexposição, bizarrices, manias esquisitas, qualquer coisa fora do comum ou do normal para estar na mídia, custe o que custar!

Menino, como eu não percebi antes?!
Claro!
Agora tudo se desvenda diante de mim!

Podemos constatar que esse "novo método" é aderido e explorado principalmente por artistas decadentes, que não se conformam com o ostracismo forçado ou por candidatos, (principalmente candidatas!) ao estrelato.
Obviamente que a classe política também usa desses recursos, mas sempre tomando muito cuidado, afinal, não se pode arranhar a imagem junto ao eleitorado, né?

Você pode até argumentar que desde que o mundo é mundo, sempre houve escândalos envolvendo pessoas públicas. É verdade, mas antigamente pessoas flagradas procendendo mal, sofriam a reprovação popular, eram boicotadas e caíam em desgraça. Se quisessem voltar à carreira, tinham que reconquistar seu público. Hoje não! Pessoas com mau comportamento, que dão mau exemplo ,"colhem" espaço na mídia e viram uma espécie de "atração diferente". São convidados especiais dos programas de tv, dão entrevistas, enfim, tiram o máximo de "proveito" por estarem no ar, às vezes até "dão sorte" de manterem por um bom tempo no horário nobre.

Uma pequena prova do quanto os valores estão invertidos é o fato de que antigamente os vilões de novela apanhavam na rua e eram hostilizados pelos telespectadores. Hoje não! Os vilões fazem muito mais sucesso que os mocinhos, tidos como chatos, sem graça, monótonos...


Quem pensa que só o belo e o louvável tem ibope, está muito engando! Atitudes questionáveis e/ou chocantes e/ou ridículas são as novas ferramentas, os novos atalhos usados para quem quer aparecer e "fazer sucesso". Tem gente que faz qualquer negócio e se submete a qualquer tipo de constrangimento, fingem até estarem envergonhados, desde que o retorno seja "se promover".
É por isso que todo dia a gente se depara com notícias assim:
  • cantora bêbada, drogada ou possuída erra a letra do Hino Nacional e deixa o Brasil estarrecido;
  • apresentadora infantil diz que conversa com duendes em sua cama;
  • atriz hollywoodiana rouba peças íntimas de famosa loja de departamentos;
  • comediante centenária mostra os seios em pleno desfile na Sapucaí;
  • cantor que tem medo de avião, some misteriosamente;
  • ex-galã, fortão e garanhão estreia em filme pornô;
  • jogador balofo em fim de carreira faz programa com tres prostitutas e descobre que eram travestis. Sua noiva ameaça deixá-lo;
  • modelo e manequim faz cirurgia plástica para reconstituir o hímem e voltar a ser virgem;
  • senador gagá dá cartão vermelho para senador velhaco;
  • ex-vocalista de banda teen engole uma pilha;
  • socialite carioca e narcisista atira ovos em transeuntes de bairro nobre, do alto da janela do apartamento dum amigo, ex-diretor de tv;
  • filha de apresentadora infantil que conversa com duendes em sua cama escreve errado no twitter e vira motivo de chacota em todo o país;
  • apresentadora anciã dá beijo na boca de cantora baiana;
  • ex-atriz, num momento de fúria, lança seu carro de luxo contra portão do prédio de seu ex-marido cantor;
  • estudante desesperada faz leilão de sua virgindade na internet;
  • cantora internacional lança videoclip onde aparece em cenas quentes com santo da igreja católica;
  • apresentadora e ex-mulher do jogador balofo é filmada transando com namorado em local público a céu aberto, em plena luz do dia e video cai na rede, tendo milhões de acessos no Youtube;
  • cantora de sucesso mostra hematomas e marcas das surras que levava do namorado, um cantor de sucesso;
  • princesinha do pop raspa a cabeça e bate em fotógrafo;
  • ex-dançarina sexy, filha de ex-cantora sexy posa nua com sua nova namorada;
  • modelo e atriz, num momento de descuido, deixa a calcinha à mostra para toda a imprensa nacional;
  • jovenzinho põe video no Youtube com o seu desabafo em defesa da filha da apresentadora infantil que conversa com duendes em sua cama;
O troço é tão sério, que existe até o papagaio de pirata profissional! Aquele tipo que vai a todos os eventos badalados: desfile de moda, estreia de filme ou peça teatral, noite de autógrafos, velórios, missa de sétido dia, audiência no tribunal...
Onde tiver um monte de artistas e jornalistas, lá estará o fulano, só para se postar atrás dos famosos e sair, ao fundo, em todas as revistas ou reportagens de tv.

Que prazer egocêntrico é esse?!
Que necessidade é essa?!

É claro que o reconhecimento é algo positivo e todos o almejam por ser altamente motivador; mas a gente sempre parte do pressuposto que uma pessoa quer ser reconhecida por algum trabalho relevante que fez, oras!
O problema é que o conceito de "trabalho" também foi alterado nesses dias modernos em que vivemos. Hoje em dia, até frequentar festas é "trabalho"! O que se ganha com isso, além da diversão? Dependendo do "artista", um bom cachê e, claro, aquilo que pra muitos não tem preço: visibilidade!


Isso me fez lembrar uma música do Jair Oliveira, cuja letra é o fiel retrato dessa nossa sociedade fútil, que quer fazer da vida um reality show, só pra alcançar a fama:

Todo Mundo Famoso

Cheguei em casa sem o que fazer
Vi que um amigo estava na TV
Fazendo o que, eu não sei bem dizer
Estava em uma casa luxuosa dizendo bobagens
Saí pra rua para refletir
Um guarda de rua veio me pedir
O meu autógrafo de "souvenir"
E vi que aquele guarda também era uma celebridade

Curioso!
Tá todo mundo famoso
Duvidoso!
Não sei se é bom ou perigoso
É todo mundo famoso
Todo mundo querendo atenção
Tá todo mundo famoso
Todo mundo famoso
Tá todo mundo famoso
Todo mundo famoso

Na padaria agora é normal
Encontros de coluna social
Donas de casa de padrão global
E segurança dando mais autógrafos que o protegido
Voltei e desliguei minha TV
Deitei na cama e pude perceber
Que havia câmeras em meu "apê"
Ou o mundo está ficando doido
Ou eu que estou perdido

Alguns artistas, no fundo do poço do esquecimento popular, ao verem frustradas todas as suas tentativas de volta ao sucesso, chegam ao extremo e dão sua última e decisiva cartada: morrem!
Vão virar notícia na certa!

Não sei pra quê Andy Warhol foi falar aquela maldita frase que "no futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos".
Tá vendo? Uma multidão tem levando isso à sério demais!

É assustador, mas a filosofia daquele velho político-ladrão paulista parece ter tomado conta do inconsciente coletivo: "bem ou mal, falem de mim".

Me inclui fora dessa, ok?