terça-feira, 1 de maio de 2012

18 anos depois

Domingo, dia 1º de maio de 1994...

Eu e minha família acordamos cedo, como de costume, pra ir ao clube que, naquele dia, teria uma festa especial em homenagem ao Dia do Trabalho, com muitos sorteios e uma banda tocando música ao vivo.
Hmmmm...

Como de costume, enrolamos muito pra sair e durante o café da manhã, com a tv ligada nas imagens daquele movimento que antecedia a corrida de F1 em Imola - Itália, uma cena me deixou particularmente impressionanda: Ayrton Senna em pé, nos boxes de sua equipe, a Williams, com um olhar distante e fixo no nada, demonstrando estar ainda muito abalado com os dois eventos acontecidos nos treinos do fim de semana: o grave acidente com o conterrâneo Rubens Barrichello, na sexta-feira (mas que teve final feliz) e a morte do colega, o austríaco Roland Ratzenberger, na curva Villeneuve, no dia anterior.

Parecia claramente que ele pressentia uma nova tragédia pr'aquele dia!

Como todos sabem, a tragédia realmente aconteceu: o Brasil perdeu Ayrton Senna - aos 34 anos de idade - que, por sua vez, perdeu pro seu pior adversário: a curva Tamburello!

No dia de hoje, a nossa saudade atinge a maioridade, sem nunca ter deixado de doer e nos fazer lamentar profundamente!


Mas por que ele conseguiu cativar os brasileiros dessa maneira, como se fosse alguém próximo, um velho amigo da família?

Ayrton não foi santo, claro, mas quase uma unanimidade, ele sempre passou uma imagem muito positiva pra todos nós, de excelência profissional, de valores de vida, de correção, de grande carater... uma reunião de características pouco vistas em pessoas públicas, principalmente nos dias atuais!

Tantos se tornaram ídolos - atletas e artistas - e foram amados por multidões, mas poucos são os que conseguem ser mitos e admirados (inclusive pelos concorrentes) como referência humana e manter isso, mesmo após a morte!



Ele foi o bom moço, sem nenhuma conotação pejorativa, que conquistou credibilidade muito além das pistas e foi um vencedor, muito além dos podiuns!


Naquele domingo, 1º de maio de 1994, no começo da tarde, a banda parou de tocar, as pessoas pararam de dançar ao redor da piscina e uma voz ecoa nas caixas de som: "Atenção senhoras e senhores, acabamos de receber a triste notícia do falecimento do piloto Ayrton Senna, devido ao grave acidente que sofreu esta manhã, na pista de San Marino. Vamos fazer 1 minuto de silêncio!"

Consternação generalisada, olhos estatalados, todos paralisados... Ninguém podia acreditar!

Cumpridos os 60 segundos de silêncio em homenagem póstuma... a banda volta quente ao seu ritmo alucinante (♫♪ "Toda vez que eu chego em casa/ a barata da vizinha tá na minha cama..."♪♫ AFFFF) e o povo todo, volta quente ao seu remelexo anterior, como se nada tivesse acontecido!!!

Como assim???

Eu fiquei com MUITA, MUITA raiva daquilo!!!
Nunca vou me esquecer quão grande foi a minha indignação com tamanha demosntração de insensibilidade coletiva!!!

A despeito disso, continuei com a minha "consternação particularizada", com os olhos estatalados, paralisada... Sem poder acreditar!

O dia cinza ficou negro e eu e minha família começamos a nos preparar pra ir embora, mas aí a banda parou de tocar, o povo parou de dançar e foi anunciado o primeiro sorteio, feito pela direção do clube e, despretenciosamente, resolvemos esperar.
Ao ler o nº do ganhador da primeira bicicleta do dia e com todo aquele clima de suspense, próprio de todo e qualquer sorteio, o locutor falou assim:
7... 2... 4... 2... 9... 
Até aí tava tudo batendo certinho com o meu número! Mas eis que, ao proclamar o último número, ele disse: MEIA DÚZIA!

Meia dúzia?!??! 
O que é isso mesmo???
Gente!!! O QUE É MEIA DÚZIAAAAAAA???
Ainda sob efeito da trágica notícia, eu demorei uns 30, 40 segundos pra processar que se tratava do MEU NÚMERO!

Acho que foi a primeira vez na minha vida que eu fui sorteada pra ganhar alguma coisa legal, significativa! Só que aquele dia era tão amargo, que não consegui saborear o prêmio, ao contrário, por se tratar de um veículo (ainda que infinitamente inferior e menos potente que o carro do Senna), aquilo foi um tanto indigesto pra mim!

Com excessão daquele povo do clube, que mesmo diante de uma notícia tão avassaladora, só queria dançar e se divertir ao redor da piscina, todo o resto do Brasil estava de luto e até hoje sente a falta desse grande homem que foi Ayrton Senna!
 


Pra sempre na memória e no coração dos brasileiros, como um heroi nacional!

Um comentário:

  1. Acho que todo brasileiro se lembra exatamente de onde estava naquela manha de 1º de maio de 1994. Eu estava dormindo na casa de um amigo de igreja na cidade de Monsenhor Paulo. Dia triste!

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