sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ao mestre com carinho

Ontem, Dia do Professor, escrevi no Twitter algumas lembranças de professores inesquecíveis que tive, mas resolvi escrever aqui também, pois acho que o tema vale ser explorado num espaço maior que 140 caracteres.

Sempre pensei na profissão de professor como a mais nobre, a mais importante, a que deveria ser mais honrada e melhor remunerada, afinal, ela é a mãe de todas as outras profissões. Claro que cada ofício tem seu valor, mas o magistério é, antes de tudo, um sacerdócio.
Como qualquer pessoa, tive professores marcantes em minha vida (tanto os bons quanto os ruins), mas todos eles, sem dúvida, de alguma forma contribuíram para a minha formação como pessoa.

-Um dos meus professores inesquecíveis foi meu amor platônico na 7ª série, em Campina Grande-PB. Não lembro o nome dele, mas era o professor de Ciências. Um gato! Paixão absoluta de 10 entre 10 estudantes do Colégio das Damas. Ele próprio (pasme!) me dava cola nas provas de múltipla escolha!
Como eu adorava!

-Tive uma ótima professora de História no cursinho, a Márcia, com quem aprendi a amar essa matéria, até então odiada por mim. Suas aulas pareciam filmes!

-Minha primeira professora de inglês, na 5ª série, era uma japonesa, (nascida no Japão mesmo) com bem pouca familiaridade com o nosso idioma. Ela nos ensinou inglês com sotaque japonês, veja você!
Só na 6ª série, quando mudei de cidade e de escola, fui ver o estrago que ela tinha feito. Uma das palavras "erradas" que me lembro dela ter ensinado, era "your", cuja pronúncia é "iór", certo? Ela nos ensinou "nhúar". (hahahahaha!)
Pra conseguir me desvencilhar desse inglês-nipônico, foi um drama!


Minhas professoras de música são um capítulo à parte!
-Minha 1ª professora de piano, quando eu tinha 7 anos de idade e morava em Caruaru-PE, foi Lourdinha Andrade Troueira (eu achava massa esse sobrenome, com todas as vogais presentes!), dona do Instituto Musical Villa Lobos. Nunca me esqueci de como ela era delicada e carinhosa. Lembro muito também dos recitais que ela promovia com os alunos, no auditório da Rádio Difusora, o maior da cidade.

-Na mesma Caruaru, tive uma outra professora de piano, D. Élcita, que era o oposto: uma sargentona muito brava. Ela me obrigava a lavar as mãos antes da aula e batia na minha mão quando eu tocava alguma nota errada. Que saco!
Pra minha sorte, fui sua aluna por pouco tempo.

-
Outra inesquecível foi Dinane, minha professora de piano no Conservatório de Música da UFPE, em Recife. Uma velhinha fofa, mais doce que o mel, mas que não sabia passar batom. Sua boca toda borrada me deixava agoniada e desviava minha atenção das partituras!

-Uma professora incrível que tive foi Maria Inês, na época do Conservatório, já em Belo Horizonte. Ela é minha ídola até hoje! Divertidíssima, super espirituosa, suas aulas eram uma festa!
Mais de 10 anos sem vê-la, um belo dia eu a encontrei por acaso e feliscíssima falei: "Maria Inês, minha ídola! Que prazer te ver!" Ela me olhou fixamente por alguns segundos, como que processando informações e disse: "Kátia Rocha Goecking Silva!"
Eu fiquei impressionada com aquela memória tão poderosa e, claro, morri de orgulho por constatar que não é só professor que marca o aluno; o contrário também é verdadeiro.
Hoje ela é a diretora da faculdade de Música da UFMG e queridíssima, como sempre.

Quando criança, eu também fui aluna da minha mãe e digo que foi uma experiência terrível! Ela, com seu infalível senso de justiça, pra demonstrar aos outros alunos que não me protegia, pelo fato de ser sua filha, fazia exatamente o contrário: me perseguia!
Ó céus!
Eu penei, viu?

Eu também já fui professora. De Percepção Musical,
por 2 anos e meio, num curso de música sacra e adorei! Meus alunos eram gente da melhor qualidade, todos adultos, o que me deixava bem mais à vontade, principalmente porque eles gostavam da minha linguagem informal, dos meus besteiróis, acompanhavam o humor sutil, trocadilhos mil e minhas parábolas mirabolantes sobre a matéria. Era sensacional e essa época deixou muita saudade!

Como regente de um Coral com 120 jovens (entre 15 e 30 anos), continuo exercendo minha função de professora e é maravilhoso aprender com eles!
E como eu aprendo!


Mas eu tenho vergonha de dizer que sou professora, quando vejo o exemplo de verdadeiros mestres que tanto se sacrificam pra levar o ensino aos seus alunos.
Vira e mexe a gente vê reportagens na tv sobre professores que, com uma dedicação sobre-humana, lutam com todas as ferramentas possíveis e imagináveis para fazer a diferença na vida de seus alunos; muitos deles em condições sub-humanas.
São salas de aula sem bancos, sem quadro; são alunos sem material didático decente, estudando lado a lado com colegas de várias séries diferentes;
escolas sem a menor infra-estrutura.
Muitos
professores nem sala têm e dão aula debaixo de árvores. Alguns, no interior da Amazônia, todos os dias atravessam rios caudalosos em barquinhos frágeis, debaixo de chuva, para transmitirem o seu saber a alunos ávidos por aprender!
É lindo e emocionante ver cenas assim, mas ao mesmo tempo é revoltante, porque sabemos muito bem que essa desigualdade social tem vários patrocinadores, muitos deles, inclusive, chamados de "vossa excelência"!

A própria população brasileira parece não reconhecer a importância da educação como pré-requisito pra formação de uma sociedade sólida e o meio mais eficaz de tornar próspera a nossa nação. O único candidato a presidência da República nas últimas eleições, Cristóvam Buarque, cuja bandeira principal era a Educação, não só foi ridicularizado como "o candidato de uma nota só", como recebeu apenas 12% dos votos!
Que país é esse?!


Além das péssimas condições de trabalho da maioria, os professores não são valorizados como merecem! Perdeu-se aquela noção de hierarquia, aquela consciência de que o professor é uma autoridade que, em sala de aula, ocupa o papel do pai e da mãe. Muito deles são desrespeitados e até ameaçados. Um fenômeno que acontece em escola de pobre e em escola de rico.
Como é que pode uma coisa dessa?!

As coisas realmente mudaram muito!
Veja o quadro abaixo e perceba como isto é uma triste e vergonhosa realidade!



Que horror!

Agradeço a Deus por ter vivido outros tempos e por fazer parte de uma classe privilegiada que teve um acesso bem mais fácil à escola.
Meus pais nunca foram milionários, mas como todos os bons pais da terra, eles sempre se esforçaram pra oferecer o melhor pra mim e pro meu irmão. E o melhor ensino nas cidades em que eu morei, eram os colégios de freiras, onde estudei metade da minha vida escolar.

Colégio de freira é muito interessante. Na época, claro, eu odiava certos procedimentos (como, por exemplo, se levantar quando a Madre Superiora entrava na sala de aula) mas hoje dou o maior valor, porque entendo que educação tem que ser rígida mesmo!
Se houvesse mais rigidez na educação, tanto nos colégios, como nas famílias, com toda a certeza não veríamos tanta frouxidão nos princípios e valores de vida.

Um dos meus filmes mais queridos de todos os tempos é "Sociedade dos poetas mortos", que conta a história de John Keating (magnificamente interpretado por Robin Williams), um professor revolucionário que marcou pra sempre a vida de seus alunos, levando-os ao maior e mais básico exercício da cidadania: pensar.
São os professores que despertam essas coisas na gente.
O filme é maravilhoso e eu recomendo com louvor!

Deus abençoe a todos os professores da vida real, a quem ofereço, com essa singela homenagem, todo o meu carinho e respeito.


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